quarta-feira, 12 de novembro de 2014

São seis da manhã e eu estou a pensar que se o universo está em expansão como se diz, então tempo e espaço não poderão ser coisas separadas. Mas antes a mesmíssima.
Nunca ninguém esteve neste sítio em que me encontro nem nunca ninguém vai poder estar porque isso seria congelar a explosão. E o universo não pára de correr. Dizem.
Dizer que foi aqui, neste local x, que se deu o evento y é erróneo. Seria o mesmo que estar a ver o tal y acontecer diante dos meus olhos e se não o estou a ver então não foi; não é este o espaço com certeza. Os locais desaparecem com o próprio desaparecer daquilo que constitui uma constante fugacidade do presente e dos eventos que nele acontecem.

O lugar parece o mesmo. Parece. Porque os lugares como os reconhecemos vão à mesma velocidade que nós. E vão sempre.
Mas os espaços ficam como os segundos. Os lugares ficam como as horas. Aprendemos a chamar de tempo à nossa bestial e perpétua conquista de território celeste.

Sim. Tempo e espaço são o mesmo. E são só o universo a esburacar o negro à velocidade da luz.

Assim sem artifícios, era só isto.
É provável que amanhã não perceba o que quis dizer.

sábado, 6 de setembro de 2014

terça-feira, 17 de junho de 2014


 ♑   ♊   ♌   ♑    ♑     ♑     ♏    ♒                
♊   2♋   3♋   4♌   5♍   6♎   7♐   8♑   9♑   10 ♒   11♓   12

sexta-feira, 13 de junho de 2014

quarta-feira, 4 de junho de 2014

espécie de desabafo culpado sobre a minha preguiça sem culpa

Ando à procura de qualquer coisa que dará pelo nome de sentido de obrigação e que se perdeu em mim há já algum tempo - seria menos tempo se ele não andasse tão apressado ultimamente.
Passam por mim cinco minutos, passam a seguir cinco meses, cheios de pressa para alguma coisa. Só eu não consigo sentir pressa alguma.
Outras coisas passam por mim e eu? sem culpa de vê-las passar.
Foco zero e culpa nenhuma.
É pavoroso como chega a haver um certo prazer nisto tudo; um certo prazer no ficar no cais a ver uma multidão embarcar no comboio para o qual tirei bilhete porque quis tirar; que me faz sorrir - vejam bem, sorrir! - e sorrio, são sorrisos sórdidos, sorrisos sedados, sorrisos sem sentido, mas são sorrisos, caramba!

Agora desafio o comboio. Deito-me no meio da linha e mostro-lhe se não me pode matar; não pode. (Estes são os comboios que passam em linhas mortas. As tais deadlines. )
E passa um.




E passa outro.
E eu à espera do quê? Sim, e eu à espera do quê, afinal?

Hoje em dia há problemas em tudo e nomes em todos os problemas. A vida é um problema digno de acompanhamento psicológico, a maior das psicopatologias. Eu gostava de saber por que nome responderá este meu problema que é a minha espera sem remorsos. O google diz que não sabe mas que sabe outras coisas.
Entretanto continuo as buscas e fica, antes de mais, o apelo: se alguém encontrar este meu sentido de obrigação ou o raio que o parta que o agarre, com força, e mo traga, morto ou vivo, mas que mo traga, pelo amor de deus. Com letra minúscula que não és mais que ninguém. A não ser que venhas no início de uma frase. Tipo agora. Deus. Pronto.

Somos todos deuses quando vimos em inícios de frases.

Beijinhos e abraços.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

entras numa livraria para matar algum tempo,

abres aleatoriamente um livro de trezentas e tal páginas e não te lembras de tê-lo escrito.

 "213
 Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu. Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desreconheço-me neles. Houve quem os escrevesse, e fui eu. Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse agora despertado como de um sono alheio. É frequente eu encontrar coisas escritas por mim quando ainda muito jovem - trechos dos dezassete anos, trechos dos vinte anos. E alguns têm um poder de expressão que me não lembro de poder ter tido nessa altura da vida. Há em certas frases, em vários períodos, de coisas escritas a poucos passos da minha adolescência, que me parecem produto de tal qual sou agora, educado por anos e por coisas. Reconheço que sou o mesmo que era. E, tendo sentido que estou hoje num progresso grande do que fui, pergunto onde está o progresso se então era o mesmo que hoje sou. Há nisto um mistério que me desvirtua e me oprime. Ainda há dias sofri uma impressão espantosa com um breve escrito do meu passado. Lembro-me perfeitamente de que o meu escrúpulo, pelo menos relativo, pela linguagem data de há poucos anos. Encontrei numa gaveta um escrito meu, muito mais antigo, em que esse mesmo escrúpulo estava fortemente acentuado. Não me compreendi no passado positivamente. Como avancei para o que já era? Como me conheci hoje o que me desconheci ontem? E tudo se me confunde num labirinto onde, comigo, me extravio de mim. Devaneio com o pensamento, e estou certo que isto que escrevo já o escrevi. Recordo. E pergunto ao que em mim presume de ser se não haverá no platonismo das sensações outra anamnese mais inclinada, outra recordação de uma vida anterior que seja apenas desta vida... Meu Deus, meu Deus, a quem assisto? Quantos sou? Quem é eu? O que é este intervalo que há entre mim e mim?

214.
Outra vez encontrei um trecho meu, escrito em francês, sobre o qual haviam passado já quinze anos. Nunca estive em França, nunca lidei de perto com franceses, nunca tive exercício, portanto, daquela língua, de que me houvesse desabituado. Leio hoje tanto francês como sempre li. Sou mais velho, sou mais 125 prático de pensamento: deverei ter progredido. E esse trecho do meu passado longínquo tem uma segurança no uso do francês que eu hoje não possuo; o estilo é fluido, como hoje o não poderei ter naquele idioma; há trechos inteiros, frases completas, formas e modos de expressão que acentuam um domínio daquela língua de que me extraviei sem que me lembrasse que o tinha. Como se explica isto? A quem me substituí dentro de mim? Bem sei que é fácil formar uma teoria da fluidez das coisas e das almas, compreender que somos um decurso interior de vida, imaginar que o que somos é uma quantidade grande, que passamos por nós, que fomos muitos... Mas aqui há outra coisa que não o mero decurso da personalidade entre as próprias margens: há o outro absoluto, um ser alheio que foi meu. Que perdesse, com o acréscimo da idade, a imaginação, a emoção, um tipo de inteligência, um modo de sentimento - tudo isso, fazendo-me pena, me não faria pasmo. Mas a que assisto quando me leio como a um estranho? A que beira estou se me vejo no fundo? Outras vezes encontro trechos que me não lembro de ter escrito - o que é pouco para pasmar -, mas que nem me lembro de poder ter escrito - o que me apavora. Certas frases são de outra mentalidade. E como se encontrasse um retrato antigo, sem dúvida meu, com uma estatura diferente, com umas feições incógnitas - mas indiscutivelmente meu, pavorosamente eu."

Bernardo Soares, o intranquilo ajudante de guarda-livros
Livro do Desassossego 

terça-feira, 6 de maio de 2014

retrocesso

Era as folhas espalhadas, muito recalcadas do correr do ano
A recolherem uma a uma por entre a caruma de volta ao ramo
Era à noite a trovoada que encheu na enxurrada aquela poça morta
De repente, em ricochete, a refazer-se em sete nuvens gota a gota
Era de repente o rio, num só rodopio a subir o monte
A correr contra a corrente assim de trás para a frente a voltar à fonte
Um monte de cartas espalhadas des-desmoronando-se todo em castelo
Era linha duma vida sendo recolhida de volta ao novelo
Era aquelas coisas tontas, as afrontas que eu digo e que me arrependo
A voltarem para mim como se assim tivessem remendo
E era eu, um passarinho caído no ninho à espera do fim
E eras tu, até que enfim, a voltar para mim

domingo, 27 de abril de 2014

rabiscos à procura de coisas

Achamo-nos espectadores da paisagem, mas é antes a paisagem que nos espreita.
Esta aqui tem sido o meu espectador devoto, tem assistido ao meu enredo há já alguns anos num empenho admirável, num comprometimento que torna improvável, às persianas, o simples acto de pestanejar. As janelas apontam-me os olhares de esguelha, discretos mas dedicados, alguns reforçados em pares poligâmicos, como que num desespero que me pede que as entretenha, que isto de ser janela e estar presa aos muros às vezes é uma chatice.
E como um espectador que se preze se entrega inteiramente ao que está a ver, quis assim ele - o espectador, ou ela - a paisagem, levar-me dali. Se ficarmos muito tempo a olhar para as coisas, elas conseguem levar-nos do sítio onde estamos.

O tempo queria parar na hora de jantar, mas eu não o deixei e ele não se importou. O tempo às vezes pára para resfolegar: quando vemos histórias ou quando olhamos para paisagens. É por isso que existem narrativas. É porque o tempo precisa de descansar.
Repousámos os dois numa janela de pupilas dilatadas de noite e reparámos que afinal éramos três, que o seu par havia prendido uma outra menina.
Consta que o aborrecimento andava a tentar entranhar aquelas casas; o aborrecimento às vezes pensa que gostava de ser humidade e faz-se passar por ela; e quis assim a paisagem intervir na intriga da sua narrativa predilecta na esperança de o espantar, misturando prolepses e analepses - ou outras coisas quaisquer, é difícil saber a ordem das coisas quando o tempo folga em janelas.

A menina era bem mais pequenina do que eu, trazia um vestido às flores que era a túnica desbotada que eu levava no corpo. Isto quer dizer que não era amiga do tempo há tantos anos, mas mais uma vez, essas coisas não importam quando ele folga em janelas.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

jeez bubia bjecas

O calor do metal faz aparecer algum calão na sua boca.
Afonso Cruz.


Estou a gostar.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

se isto fosse um desenho era um contorno lento

Estou convicta de que o ano começa em Fevereiro.
Como quando temos aquele trabalho para enviar ao professor até à meia-noite, mas enviamos à meia-noite e sete minutos. Janeiro são esses sete minutos. É quando percebes que tinhas umas coisas para fechar naquele ano mas não conseguiste, então a frustração transforma-se numa energia inabalável e tudo acontece, essa energia é Janeiro.
Somos todos felizes em Janeiro, o meu nome do meiro... não?

...

Outra convicção que tenho para mim é a de que errar é o mano. O melhor de todos.
E tenho-a de uma maneira mais excessiva ou... especial, se assim quisermos, desde a altura em que andava a estudar o código, porquê, porque eram as respostas erradas daqueles testes que me iam fazendo errar menos nos testes seguintes. Até não errar nunca mais porque todos os erros haviam já sido cometidos. Às tantas via-me envolvida numa avidez desmedida de resultados absurdos. E as respostas certas. Não me perguntem quais eram. Acho que ninguém olha para elas, pois não?
Isto é o cliché. Do mais reles. Do mais básico. Bem sei. (Básico é tanto banalidade como imprescindibilidade e eu acho isso engraçado.) Mas é que há coisas que sabemos de antemão e mesmo resolvendo concordar com elas, é completamente diferente quando as descobrimos sozinhos. É com os erros que aprendemos, ampliemos isso então, e projetemos sobre todas as coisas a ver no que dá. Na vida os erros não podem ser todos eliminados tendo em conta que a vida não tem páginas contadas; mas podemos dar cabo de grande parte deles; não podemos também medir o tamanho dessa parte mas suponho que seja significativo.
É que ultimamente tenho-me espatifado em bajillions desses... lapsos comportamentais. Mas não me deixam em baixo. Não. Muito pelo contrário. São desacertos felizes...
E por falar em vida.
Às vezes há coisas que, opá!
cum catano.
Coisas.
E nós adoramos criar relações entre as coisas e proclamar que é o universo. Sei lá, eu chamo-lhe universo. Que está a tentar manifestar-se e advertir-nos de coisas. Faz-nos sentir confortáveis e especiais. Pois faz. Aconteceu-me. E eu acho curioso. Acho curioso como a e têm o poder de nos deixar a pensar num c pelo simples facto de coincidirem. Acho piada como duas realidades - à partida independentes - mas aparentemente sobrepostas podem criar uma terceira. Ou será que essa terceira já existia previamente? Ali uma intençãozinha ardilosa disfarçada de universo? Se calhar é mais isso...
Um dia estás no sitío certo à hora certa e acontece aquela cena bestial. Achas que foi obra do destino porque epá não há coincidências assim, não há, ponto, mas onde esteve o destino durante tanto tempo?
Onde está o destino agora?
Onde esteve ontem?
E anteontem?
Achas que o destino aparece quando lhe dá na real gana, é isso?
Se existisse um destino ele não deveria estar sempre aí e todas as coisas faziam sentido... de uma forma algo... constante?
Pois eu acho. E que piada tinha?
Bem sei que apetece repousar na ideia de que tudo é bonito e significante.
Ou então no clássico ah-e-tal-no-fim-tudo-vai-fazer-sentido. (que raio de fim é esse que vai chegar e fechar uma linha num círculo munido de significado? alguma vez existiu, verdadeiramente, um fim de alguma coisa?)
Não se enganem. Às vezes acho que a vida foi um acidente. Não era suposto ter acontecido e agora olha,
arranjem-se.
Outras vezes não.
Hoje é uma dessas vezes.

Por isso. Coincidências: Vede lá o que fazeis às pessoas. Pô-las a esmiuçar o que não é passível de ser esmiuçado pode ser divertido, mas é atroz, por isso... não abuseis,  não? E tende lá cuidado... está bem?

Fim de parágrafos aleatórios por hoje.
Ou não.
Há mais qualquer coisa.
Porque.
Olha, não sei.
Uma porta fechada nunca é uma porta fechada.
E quando não está fechada varia nuns cento e cinco graus. Pode estar aberta de cento e cinco maneiras diferentes.
Sabes. Uma porta fechada é uma ilusão. Não tapa nem deixa tapar. Às vezes não basta fechar portas. Às vezes mais vale tirar a porta, e pôr lá uns tijolos. A sério.

Comecei numa ponta e acabei noutra e dei voltinhas e.
Ainda não sei bem o sentido disto.
Uma pessoa faz o que pode.
Estou muito cansada.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

sem título_1

Dizem que não podemos recuar no tempo, mas de certa forma até podemos, sabes? Não que possamos aceder ao seu documento original, mas a uma versão só de leitura asseguro-te que é possível. Há dias em que os nosso cérebro consegue fazer uns truques manhosos e os nossos sentidos são transportados para um plano temporal completamente diferente. Há estímulos auditivos que facilitam a coisa e tudo, e lá vem a lengalenga do costume. Eu insisto nisto porque me preocupo com vocês, Russos e Americanos desorientados que - e já agora digam-me... sei lá. por que estradas vêm cá parar - lêem este blog, está bem?
Vejam-me o potencial disto: Há quatro anos tive uma amigdalite. Tive de ficar uma semana em casa a tomar uns antibióticos que me davam cabo do estômago. Muito tempo livre, encontrei umas bandas fixes, viciei-me num álbum em particular que ouvi 24/7. Há dias tive saudades e procurei-o pelas ruas do youtube, mas estou lixada porque essas músicas agora trazem-me dores de estômago. No kidding. серьезно! Agora pensem. Mas digo-vos que estas viagens no tempo são perigosas. É preciso saber voltar, aterrar direitinho e adaptarmo-nos à realidade em volta numa questão de segundos.

Tinha saudades de me demorar aqui. Entre navegações procrastinatórias, fui contra o facto de não deixar mais de duas linhas por estes lados há pouco mais de quatro anos. Estou a senti-los sobretudo sob a forma de um intenso sabor a ferrugem que vem a escorrer desde as concavidades do meu lobo frontal para se entranhar ferozmente neste html. Mhh, pois. Custa arrancar. Quero ressuscitar este spacito. (um blog é um espaço? a internet é um lugar? é, não é? um lugar onde só estamos metade? hm? este fica para outro dia.)

Um quatro que parece um dois. Consigo, no entanto, reconhecer uma mudança brutal nos tons daqueles dias para os de hoje. Somos, sei lá, uma metamorfose em câmara lenta tsipo. Distrais-te uns segundos e ups, já foste. Revolta-me, pá. Eu já morri tanto. Que fizeste no dia 7 de Abril de 2006? Não sabes. Nem eu. É porque não fizemos nada. É porque não existimos. Ou existimos. Mas já morremos. Vai dar ao mesmo. É nada.

São três da manhã, abro a janela, acendo um cigarro. Não sei se alguma vez te disse isto, mas...

deixa lá.
eu volto já.

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Ensarilharam-se as trelas dos cães
Os astros, os signos
Os desígnios, as constelações
As estrelas, os trilhos
E as tralhas dos dois

 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

quinta-feira, 28 de novembro de 2013