domingo, 27 de abril de 2014

rabiscos à procura de coisas

Achamo-nos espectadores da paisagem, mas é antes a paisagem que nos espreita.
Esta aqui tem sido o meu espectador devoto, tem assistido ao meu enredo há já alguns anos num empenho admirável, num comprometimento que torna improvável, às persianas, o simples acto de pestanejar. As janelas apontam-me os olhares de esguelha, discretos mas dedicados, alguns reforçados em pares poligâmicos, como que num desespero que me pede que as entretenha, que isto de ser janela e estar presa aos muros às vezes é uma chatice.
E como um espectador que se preze se entrega inteiramente ao que está a ver, quis assim ele - o espectador, ou ela - a paisagem, levar-me dali. Se ficarmos muito tempo a olhar para as coisas, elas conseguem levar-nos do sítio onde estamos.

O tempo queria parar na hora de jantar, mas eu não o deixei e ele não se importou. O tempo às vezes pára para resfolegar: quando vemos histórias ou quando olhamos para paisagens. É por isso que existem narrativas. É porque o tempo precisa de descansar.
Repousámos os dois numa janela de pupilas dilatadas de noite e reparámos que afinal éramos três, que o seu par havia prendido uma outra menina.
Consta que o aborrecimento andava a tentar entranhar aquelas casas; o aborrecimento às vezes pensa que gostava de ser humidade e faz-se passar por ela; e quis assim a paisagem intervir na intriga da sua narrativa predilecta na esperança de o espantar, misturando prolepses e analepses - ou outras coisas quaisquer, é difícil saber a ordem das coisas quando o tempo folga em janelas.

A menina era bem mais pequenina do que eu, trazia um vestido às flores que era a túnica desbotada que eu levava no corpo. Isto quer dizer que não era amiga do tempo há tantos anos, mas mais uma vez, essas coisas não importam quando ele folga em janelas.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

jeez bubia bjecas

O calor do metal faz aparecer algum calão na sua boca.
Afonso Cruz.


Estou a gostar.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

se isto fosse um desenho era um contorno lento

Estou convicta de que o ano começa em Fevereiro.
Como quando temos aquele trabalho para enviar ao professor até à meia-noite, mas enviamos à meia-noite e sete minutos. Janeiro são esses sete minutos. É quando percebes que tinhas umas coisas para fechar naquele ano mas não conseguiste, então a frustração transforma-se numa energia inabalável e tudo acontece, essa energia é Janeiro.
Somos todos felizes em Janeiro, o meu nome do meiro... não?

...

Outra convicção que tenho para mim é a de que errar é o mano. O melhor de todos.
E tenho-a de uma maneira mais excessiva ou... especial, se assim quisermos, desde a altura em que andava a estudar o código, porquê, porque eram as respostas erradas daqueles testes que me iam fazendo errar menos nos testes seguintes. Até não errar nunca mais porque todos os erros haviam já sido cometidos. Às tantas via-me envolvida numa avidez desmedida de resultados absurdos. E as respostas certas. Não me perguntem quais eram. Acho que ninguém olha para elas, pois não?
Isto é o cliché. Do mais reles. Do mais básico. Bem sei. (Básico é tanto banalidade como imprescindibilidade e eu acho isso engraçado.) Mas é que há coisas que sabemos de antemão e mesmo resolvendo concordar com elas, é completamente diferente quando as descobrimos sozinhos. É com os erros que aprendemos, ampliemos isso então, e projetemos sobre todas as coisas a ver no que dá. Na vida os erros não podem ser todos eliminados tendo em conta que a vida não tem páginas contadas; mas podemos dar cabo de grande parte deles; não podemos também medir o tamanho dessa parte mas suponho que seja significativo.
É que ultimamente tenho-me espatifado em bajillions desses... lapsos comportamentais. Mas não me deixam em baixo. Não. Muito pelo contrário. São desacertos felizes...
E por falar em vida.
Às vezes há coisas que, opá!
cum catano.
Coisas.
E nós adoramos criar relações entre as coisas e proclamar que é o universo. Sei lá, eu chamo-lhe universo. Que está a tentar manifestar-se e advertir-nos de coisas. Faz-nos sentir confortáveis e especiais. Pois faz. Aconteceu-me. E eu acho curioso. Acho curioso como a e têm o poder de nos deixar a pensar num c pelo simples facto de coincidirem. Acho piada como duas realidades - à partida independentes - mas aparentemente sobrepostas podem criar uma terceira. Ou será que essa terceira já existia previamente? Ali uma intençãozinha ardilosa disfarçada de universo? Se calhar é mais isso...
Um dia estás no sitío certo à hora certa e acontece aquela cena bestial. Achas que foi obra do destino porque epá não há coincidências assim, não há, ponto, mas onde esteve o destino durante tanto tempo?
Onde está o destino agora?
Onde esteve ontem?
E anteontem?
Achas que o destino aparece quando lhe dá na real gana, é isso?
Se existisse um destino ele não deveria estar sempre aí e todas as coisas faziam sentido... de uma forma algo... constante?
Pois eu acho. E que piada tinha?
Bem sei que apetece repousar na ideia de que tudo é bonito e significante.
Ou então no clássico ah-e-tal-no-fim-tudo-vai-fazer-sentido. (que raio de fim é esse que vai chegar e fechar uma linha num círculo munido de significado? alguma vez existiu, verdadeiramente, um fim de alguma coisa?)
Não se enganem. Às vezes acho que a vida foi um acidente. Não era suposto ter acontecido e agora olha,
arranjem-se.
Outras vezes não.
Hoje é uma dessas vezes.

Por isso. Coincidências: Vede lá o que fazeis às pessoas. Pô-las a esmiuçar o que não é passível de ser esmiuçado pode ser divertido, mas é atroz, por isso... não abuseis,  não? E tende lá cuidado... está bem?

Fim de parágrafos aleatórios por hoje.
Ou não.
Há mais qualquer coisa.
Porque.
Olha, não sei.
Uma porta fechada nunca é uma porta fechada.
E quando não está fechada varia nuns cento e cinco graus. Pode estar aberta de cento e cinco maneiras diferentes.
Sabes. Uma porta fechada é uma ilusão. Não tapa nem deixa tapar. Às vezes não basta fechar portas. Às vezes mais vale tirar a porta, e pôr lá uns tijolos. A sério.

Comecei numa ponta e acabei noutra e dei voltinhas e.
Ainda não sei bem o sentido disto.
Uma pessoa faz o que pode.
Estou muito cansada.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

sem título_1

Dizem que não podemos recuar no tempo, mas de certa forma até podemos, sabes? Não que possamos aceder ao seu documento original, mas a uma versão só de leitura asseguro-te que é possível. Há dias em que os nosso cérebro consegue fazer uns truques manhosos e os nossos sentidos são transportados para um plano temporal completamente diferente. Há estímulos auditivos que facilitam a coisa e tudo, e lá vem a lengalenga do costume. Eu insisto nisto porque me preocupo com vocês, Russos e Americanos desorientados que - e já agora digam-me... sei lá. por que estradas vêm cá parar - lêem este blog, está bem?
Vejam-me o potencial disto: Há quatro anos tive uma amigdalite. Tive de ficar uma semana em casa a tomar uns antibióticos que me davam cabo do estômago. Muito tempo livre, encontrei umas bandas fixes, viciei-me num álbum em particular que ouvi 24/7. Há dias tive saudades e procurei-o pelas ruas do youtube, mas estou lixada porque essas músicas agora trazem-me dores de estômago. No kidding. серьезно! Agora pensem. Mas digo-vos que estas viagens no tempo são perigosas. É preciso saber voltar, aterrar direitinho e adaptarmo-nos à realidade em volta numa questão de segundos.

Tinha saudades de me demorar aqui. Entre navegações procrastinatórias, fui contra o facto de não deixar mais de duas linhas por estes lados há pouco mais de quatro anos. Estou a senti-los sobretudo sob a forma de um intenso sabor a ferrugem que vem a escorrer desde as concavidades do meu lobo frontal para se entranhar ferozmente neste html. Mhh, pois. Custa arrancar. Quero ressuscitar este spacito. (um blog é um espaço? a internet é um lugar? é, não é? um lugar onde só estamos metade? hm? este fica para outro dia.)

Um quatro que parece um dois. Consigo, no entanto, reconhecer uma mudança brutal nos tons daqueles dias para os de hoje. Somos, sei lá, uma metamorfose em câmara lenta tsipo. Distrais-te uns segundos e ups, já foste. Revolta-me, pá. Eu já morri tanto. Que fizeste no dia 7 de Abril de 2006? Não sabes. Nem eu. É porque não fizemos nada. É porque não existimos. Ou existimos. Mas já morremos. Vai dar ao mesmo. É nada.

São três da manhã, abro a janela, acendo um cigarro. Não sei se alguma vez te disse isto, mas...

deixa lá.
eu volto já.

_

Ensarilharam-se as trelas dos cães
Os astros, os signos
Os desígnios, as constelações
As estrelas, os trilhos
E as tralhas dos dois