terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Vou-vos falar do quarto da minha tia

Escuro, pequeno e depressa se tornou desarrumado. Talvez porque raramente me dava ao trabalho de abrir a persiana, ou de fazer a cama, ou simplesmente porque lhe apetecia concordar comigo, ou ilustrar, representar o ambiente que envolvia a minha cabeça, que estava em todo o lado, menos ali. Nada daquilo me pertencia, eu não conhecia aqueles objectos, estavam nulos de valor para mim, mas souberam acolher-me, e foi neles, e naquele recinto que me procurei sem cessar no meio do tudo que não me era nada. Depressa me tornei nas paredes, e o chão dissolveu-se nos meus pés. No tecto ficaram estampadas ideias mortas, nos objectos impressões digitais dos meus olhos, nos quatro cantos sentimentos, água e cloreto de sódio. Aquele espaço passou a pertencer-me. E tornar-me-ei nele de cada vez que o silêncio o invadir para me acordar.

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