sábado, 13 de fevereiro de 2010

Borrow

E se eu tiver passado para o outro lado da música?

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É mesmo verdade que as coisas atrás de nós parecem comprimir. E acabam por parecer muito mais interessantes também. Por isso é que às vezes tenho a mania de rever todos os anos da minha vida como se de um filme se tratasse. Porque a nossa memória é a coisinha mais medíocre que anda aí e se calhar não devia ser, e de um ano, por muito que se queira, não se conseque lembrar de tudo o que se comeu, tudo o que se sentiu, tudo o que se pensou, tudo o que se disse e se ouviu, tudo o que se fez, todos aqueles momentos mais estranhos e fugazes mas interessantes, nem as coisas mais banais a nossa memória consegue suportar. Por muito banais que sejam, foram vividas, e se repararem, a nossa memória acaba por matar pedacinhos da nossa vida. Pedações! Por isso é que eu não gosto dela. O que ficam, são as coisas mais ou menos e relativamente importantes, algumas, muito boas ou muito más e outras insignificantes que escapam. Mas eu queria todas. É que depois fico com a sensação que foi grande ano. E nem foi se calhar. É um bocadinho frustrante. Estão a perceber?

E eu tenho traumas com músicas, digo isto cinquenta mil vezes por dia mas ninguém quer saber. Também não quero saber se vocês têm. Eu tenho porque algumas conseguem, nelas, levar partes de mim para um plano passado. São complementos à minha memória. Por exemplo… Músicas que eu ouvia no meu sétimo ano ao ir para a escola… Esse ir para a escola acabou por ficar registado nelas. E ao ouvi-las eu consigo viver um bocadinho lá. Consigo ir um bocadinho para a escola. E não só. No entanto, se eu vos puser a ouvir a mesma música, vocês não vos vão sentir, e muito menos a mim, a ir para a escola. Mesmo não sendo real, não quero saber, eu consigo. E é bom. Mas ligeiramente perturbador e incomodativo se resolvermos pensar sobre o assunto. O que são estas ideias de passado, de presente e de futuro que nós temos? O que é o tempo? Alguém sabe se o tempo existe? Boa, nem eu. Mas se existir, é o passado que o está a ''comer?''

Eu estou a escrever neste blog. Na verdade estou no Word. Mas não interessa. É presente. O que implica já ter sido futuro no passado e vir a ser passado no futuro. Grande cena. Podemos dizer que caminhamos em direcção ao futuro? Enquanto ele caminha em direcção ao nosso presente até continuar e, a certa altura, se espetar no nosso passado? Se assim for… então estamos numa constante fuga ao presente, a atirá-lo, em vão, para o passado, (em vão) porque o futuro continua a devolver mais presentes de cada vez que o fazemos. Por outro lado, podemos considerar o passado matéria morta? Ou não, porque apesar de só existir no formato ‘’.memória’’, continua a condicionar a nossa vida num plano ‘’vivo’’/actual? E o futuro, é uma ilusão? Ou uma conclusão dedutiva resultante da relação do passado com o presente , ou seja, do facto de o presente actual ter sido já um dado desconhecido, uma incógnita em relação ao passado, quando este passado ainda era presente, e de haver por isso, necessariamente, um ''futuro'' presente em relação ao presente actual?

E a nossa própria vida? Podemos dizer que a nossa vida é uma transferência, uma ''passagem de um saco para o outro''? Por nascermos sem passado, mas cheios de futuro? E morrermos cheios de passado, mas sem futuro, quando esse futuro se cansa de se estar sempre encontrar com o passado no passado e de nos dar presentes, e decide lá ficar, sempre, convertido a passado, adormecido, inalterável?

E se, como nos filmes de ficção científica, por A mais B e através de cálculos super complicados e todos xptos sobre anos-luz fosse mesmo provado e previsto, pelos cientistas, um possível regresso ao passado? E se assim o passado passasse a ser reversível? Seria bom? Ou disporíamos dessa nova função para o tornar irreversível outra vez?

Vou publicar isto... Estou a publicar... E já publiquei.

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